ESPAÇOS COLETIVOS DE TRABALHO: entre a produção e a reprodução

Viviane Zerlotini da Silva

resumo

Os grupos de trabalho associado, ao produzir os seus espaços, adotam outra racionalidade na organização espacial, não fundamentada em bases exclusivamente produtivistas. A racionalidade reprodutivista contém traços de autonomia porque não separa os espaços de moradia e de trabalho. Contudo, no senso comum técnico e em geral prevalecem as ideias de separação e funcionalização dos espaços, tal como a ideologia burguesa concebe e a arquitetura moderna reforça, contribuindo para o afastamento do indivíduo da esfera pública. Por sua vez, os grupos de trabalho associado enfrentam limitações na produção de seu espaço referentes à escassez de recursos, ao acesso precário às informações e às determinações externas de concorrência de mercado. O desafio desses coletivos e das propostas teóricas e práticas que pretendem favorecê-los consiste em superar as pseudoalternativas, previamente definidas pela vulnerabilidade e precariedade a que estão submetidos. Esta pesquisa busca identificar as bases conceituais das ferramentas mediações ou interfaces de espacialidades, que possam potencializar os traços de autonomia e autogestão já presentes na produção do espaço por trabalhadores associados, tendo por horizonte a livre associação entre produtores e reprodutores e a precedência da reprodução sobre a produção, no sentido de ser a base principal da existência da sociedade. De modo a potencializar os traços de autonomia e a superar as relações opressoras de gênero e de trabalho, os técnicos ocupados com os coletivos devem compreender em profundidade, e de maneira crítica, as vantagens e os pequenos ganhos de autonomia dos arranjos sócio-espaciais elaborados pelos coletivos, e que são minimamente alternativos aos arranjos convencionais, como a proximidade ou coincidência entre moradia e trabalho, as relações de proximidade entre os membros do grupo, as relações não hierárquicas, a organização horizontal do trabalho de reprodução e de produção, a coabitação da família estendida, os efeitos úteis da força social de trabalho de reprodução e de produção, a combinação de várias escalas de ação, o desenvolvimento das capacidades efetivas dos indivíduos, o livre intercâmbio de ideias, a posse coletiva da terra e de seus meios de produção e a produção do espaço político